A palavra hiperbóreo vem do grego Hyperbóreios, significando literalmente “além do Bóreas”, o deus do vento norte. Na mitologia e na tradição esotérica, os hiperbóreos não eram apenas um povo situado em uma região distante e gelada, mas seres de sabedoria ancestral, habitantes de uma terra sagrada luminosa, localizada além dos limites do mundo conhecido. Para os antigos, especialmente os gregos e depois os ocultistas modernos, hiperbórea simbolizava uma origem primordial, anterior à decadência do mundo atual. Não se tratava apenas de geografia, mas de um estado de consciência, representando um lugar onde os deuses caminhavam entre os homens, onde a natureza e o espírito estavam em perfeita harmonia.
Era um paraíso primordial, não contaminado pela corrupção do tempo histórico. René Guénon, ao abordar o simbolismo das civilizações tradicionais, afirma:
“A verdadeira Terra Santa não é uma localização geográfica, mas um centro espiritual, o Polo, o ponto imóvel em torno do qual tudo gira” (Guénon, O Rei do Mundo).
Assim o hiperbóreo é aquele que busca retornar a origem, a luz antes da queda, a sabedoria que antecede os ciclos de degeneração. Estar, “além do vento norte” é mais do que cruzar os limites da consciência ordinária e adentrar o reino do eterno, do puro, do arquétipo.
No esoterismo tradicional, Hiperbórea não é apenas uma terra mítica do extremo norte, mas o símbolo de uma civilização primordial e sagrada.
Ela representa o Centre=o Supremo – o ponto de origem de toda a verdadeira tradição espiritual, a fonte polar de sabedoria eterna que, segundo autores como René Guénon, Julius Evola e outros, teria irradiado luz para todos os povos ancestrais.
A localização “além do vento norte”, tem um significado oculto: o norte, associado ao pólo, representa o eixo do mundo – o axis mundi – em torno do qual gira a existência. Hiperbórea está além disso, no invisível, no eterno, inacessível ao profano. No plano simbólico, o hiperbóreo é aquele que não está mais sujeito às ilusões do mundo cíclico, mas que vive no estado de permanência espiritual,
acima do tempo, como um iniciado que retorna a origem.
Julius Evola descreve Hiperbórea como a matriz espiritual da Tradição Primordial: “ Não se trata de um continente físico perdido, mas de uma terra, de uma condição superior do ser, símbolo de uma raça do espírito.” ( Revolta contra o mundo moderno).
Esse “povo do espírito” hiperbóreo teria sido detentor de uma ciência sagrada, de uma metafísica solar, anterior as religiões formais. Sua sabedoria não era racional, mas intuitiva, simbólica, ligada a luz interior. Muitos esoteristas veem nos arquétipos nórdicos – como as runas, os deuses, Aesir, o Yggdrasil – ecos dessa sabedoria hiperbórea original que sobreviveu nos mitos escandinavos, mesmo
que fragmentada.
No ocultismo contemporâneo, trabalhar com o “espírito hiperbóreo” significa buscar o retorno, à unidade com o princípio divino, despertando em si a centelha polar que transcende o caos da matéria e da história.
Na cosmologia tradicional de diversos povos antigos, o conceito de Axis Mundi representa o ‘Eixo do Mundo”, o ponto central que liga os três planos do universo: o céu (espiritual), a terra (material), e o submundo ( inconsciente ou ancestral). Esse eixo é simbólico e espiritualmente o centro do mundo, e se manifesta sob formas como Árvore da vida, a Montanha Sagrada ou o Pilar Cósmico.
No contexto indo-europeu e nordico, o Yggdrasil, a grande árvore do mundo, é um exemplo vivido do Axis Mundi – conectando os Nove Mundos, sustentando o cosmos e servindo como ponte entre os deuses, os homens e os mortos.
O Axis Mundi em muitas culturas era representado como um lugar real e sagrado na Terra, tido como o centro do mundo ou como um ponto de acesso ao divino. exemplos incluem:
. Monte Meru na tradição Hindu e budista.
. Monte Olimpo na mitologia grega.
. Monte Sinai na tradição judaico-cristã
. Delphos na grécia, considerado o umbigo do mundo
. Yggdrasil, a árvore do mundo nórdica, conectando os nove mundos.
. No Polo Norte espiritual (Hiperbórea) , em certas tradições esotéricas, era
considerado o local original do Axis Mundi terrestre.
Esses lugares reais ou mitológicos eram vistos como portais entre os mundos, centros de sabedoria, revelação e comunhão com o sagrado.
Além de sua dimensão geográfica, o Axis Mundi atua como um símbolo interno e arquetípico: representa o centro da consciência humana.
Na psique, o Axis Mundi é o eixo vertical da alma, que conecta os aspectos inferiores (instintos, sombras), o plano consciente (ego, razão) e o superior (intuição, espírito). Meditativa-Mente ele pode ser acessado pela coluna vertebral energética – o eixo central que sustenta os chakras e canaliza a energia espiritual (como o Sushumna na tradição vedica).
Em estados alterados de consciência, esse “eixo interno” pode ser ativado como ponte entre os mundos – facilitando visões, intuições e vivências arquetípicas,
O Axis Mundi é tanto um lugar sagrado na Terra quanto um ponto de despertar dentro do ser humano. Ele nos lembra que existe um centro estável e eterno no caos do mundo – um ponto de equilíbrio entre espírito e matéria. Ao encontrarmos esse centro dentro de nós, nos reconectamos com o sentido da existência, com a sabedoria ancestral e com a totalidade do ser.
Hiperbórea e Runas: A sabedoria Codificada
Hiperbórea é descrita nas tradições antigas como uma terra mítica situada ao extremo norte, além dos ventos gelados da Boreia, Para os gregos era uma terra de eterna luz, onde o sol nunca se punha e os habitantes viviam em comunhão. Para os nórdicos antigos, o nome ‘Hiperbórea” não aparece explicitamente nas suas fontes tradicionais (como as Eddas ou Sagas), mas o conceito existe sob outros nomes e imagens simbólicas.
Os principais correspondentes são:
.Asgard – a morada dos deuses Aesir, um reino superior de luz e ordem, separado do mundo dos homens (Midgard), Asgard é a representação do “centro celestial” ou “terra sagrada” , muito similar a hiperbórea mitica.
. Ginnungagap – o vazio primordial entre fogo (Muspefheeim) e gelo ( Niflheim), de onde tudo surgiu. Antes da criação do mundo visível, existia apenas este grande vazio cósmico – simbolizando o estado puro anterior a materialização material.
. Útgardr (“fora do recinto”) – é o mundo exterior, caotico e distante do centro de ordem divina (Asgard). Hiperborea seria, ao contrario de Úlgardr, o “dentro”, o centro puro. Alguns estudiosos esotéricos interpretam Asgard como uma “projeção mítica” do arquetipo Hiperborio – a morada original dos seres
iluminados, anteriores a queda e a corrupção do mundo.
As Runas, nesse contexto, são vistas pelos nórdicos como forças cósmicas vivas que permeiam a criação desde o início dos tempos, Elas não foram inventadas, mas descobertas por Odin, através de um ato de sacrifício pessoal. Para os nórdicos, runas são tesouros cósmicos preexistentes, vinculadas diretamente ao mistério do ser, do destino (wyrd) e das forças universais – elementos que remetem a ideia de uma sabedoria ancestral , como a atribuída a hiperbórea.
Assim:
A hiperbórea nórdica corresponde a um estado arquetípico o centro luminoso e puro da criação (Asgard ou Ginnungagap)
As Runas são fragmentos dessa ordem primordial: Ferramenta sagrada que mantém conexão com a fonte divina.
Hiperbórea como centro primordial de luz e sabedoria atravessa silenciosamente tradições antigas cruza a história de forma velada e se revela nos tempos atuais Hiperbórea vive na tradição nórdica através dos símbolos da Árvore do Mundo, dos deuses da luz e das Runas – que continuam a ser chaves de memória e de poder para aqueles que buscam retornar a fonte primordial.
Tanto Hiperbórea quanto Runas nos recordam de uma verdade esquecida, a de que somos herdeiros de uma linhagem sagrada, cuja origem está além do tempo, nas terras eternas onde a luz nunca apaga.
Linha do Tempo: A ideia do Centro Primordial e suas conexões com os Nórdicos
1. Pré-história ( civilizações polares míticas) 12000 aC. Tradições orais falam de uma raça primordial que teria vivido em terras do extremo norte, antes da última Era Glacial. Muitos mitos de povos antigos (não so europeus) mencionam . uma “terra de luz eterna”, associada ao norte.
2. Antiguidade Clássica (Grécia) – 5º século a.C. Heródoto Píndaro e outros autores gregos falam da Hiperbórea uma terra mágica “além do vento norte”, onde o Sol nunca se põe e onde vivem seres
quase divinos. Hiperbórea descrita como inacessível, perfeita e anterior as corrupções do mundo conhecido.
3. Mitologia Indo Européia (Origem comum) – 4000 a 2000 a.C. .Povos indo-europeus (que dariam origem aos germânicos, celtas, gregos, hindus), já cultuavam um conceito de um “centro sagrado” e um “povo de origem solar e polar” Esse centro muitas vezes é ligado a montanhas sagradas ou árvores cósmicas (como a Yggdrasil).
4. Tradição Nórdica/Germânica (Eddas) – 8º a 11º século depois d.C Nos mitos nórdicos, surgem conceitos equivalentes:
Asgard como reino dos deuses
Yggdrasil como o eixo cósmico (Axis Mundi).
Ginnungagap como o vazio primordial da criação Os deuses Aesir são vistos como forças de ordem contra o caos, vindo de uma origem divina e luminosa – resquicios do mito hiperboreo.
Descoberta das Runas (mito de Odin) – Tradicional no Norte Europeu
As Runas representam leis cósmicas eternas – não inventadas, mais acessadascomo fragmentos da antiga ordem primordial, ligada espiritualmente a “terra dos deuses”, o Norte luminoso”.
6.Idade Média/Cristianismo – Século 11 em diante
Muito desse saber antigo se perde ou é reinterpretado de forma simbólica.
O “Norte” passa a ser visto mais como território físico e não mais como centro espiritual.
7. Renascimento Esotérico (século 19-20)
Pesquisadores como Guido von List, René Guénon e Julius Evola resgatam a ideia de que a Hiperbórea e as tradições nórdicas derivam de uma “tradição primordial” muito antiga, de natureza espiritual polar.
Runas como Ferramenta terapêutica

Runas como Ferramenta Terapeutica: Um Caminho de autoconhecimento e Cura.
As Runas originárias das antigas tradições germânicas e nórdicas , são mais do que símbolos mágicos ou oraculares – são chaves arquetípicas que acessam dimensões profundas do inconsciente humano. Em um contexto terapêutico, as runas funcionam como espelhos simbólicos que revelam padrões, bloqueios e potenciais latentes, promovendo autoconhecimento, integração emocional e cura espiritual.
O psicólogo Carl Gustav Jung introduziu o conceito de arquétipo como imagens primordiais do inconsciente coletivo. As Runas se encaixam perfeitamente nesse conceito, pois cada símbolo carrega significados universais ligados a forças da natureza, aspectos da psique e ciclos da vida, Quando uma pessoa entra em contato com uma runa especifica – Seja em uma tiragem, meditação ou ritual– ela está acessando esse conteúdo simbólico profundo, o que pode desencadear percepções e transformações significativas.
Terapia Rúnica: Diagnóstico e Transformação
O processo terapêutico com runas pode seguir duas linhas principais: diagnóstico
simbólico e ativação energética.
1. Diagnóstico simbólico: Ao utilizar as runas como oráculo, o terapeuta ou o próprio buscador pode identificar desequilíbrios emocionais, padrões inconscientes e desafios existente. Por exemplo, a runa Isa que simboliza o gelo, pode indicar estagnação ou bloqueio emocional. Já Dagaz, associada
ao despertar e a luz, pode apontar para uma iminente transformação.
2. Ativação energética: Além de diagnosticar, as runas também podem ser invocadas, desenhadas ou visualizadas como ferramentas de realinhamento energético. Meditar com a runa Sowilo que representa o sol e a força vital, pode ajudar a restaurar a autoestima e iluminar estados depressivos. Já a runa Eihwaz, ligada a morte e renascimento, pode apoiar processos de luto ou encerramento de ciclos.
Runas como portal para o Autoconhecimento
No processo terapêutico, as runas oferecem uma linguagem simbólica rica para trabalhar temas como:
. Relacionamento e padrões afetivos.
. Medos, traumas e bloqueios inconscientes
. Vocação, propósito e identidade espiritual
. Transições de vida e rituais de passagem
. Cura ancestral e reconexão com linhagens espirituais.
Cada runa pode ser vista como um “psicodrama simbólico”, onde o consulente se projeta permite que os conteúdos inconscientes venham a tona com segurança e clareza.
Ritual e Escrita Terapêutica com Runas
Alem disso a pratica com runas favorece o processo de individuação, conceito chave de Jung, que é o caminho de integração dos opostos dentro da psique e o reconhecimento do Eu profundo.
“A individuação é o processo pelo qual uma pessoa se torna o que ela é destinada a ser” –Jung Nesse sentido a jornada terapêutica com as runas não apenas de cura, mas de reconexão com a totalidade do ser. Ao se deparar com as mensagens simbolicas de cada runa, o individuo não apenas se compreende
melhor, mas ativa potenciais internos esquecidos ou nunca antes reconhecido.
Elas aparecem como instrumento simbolico que facilitam o contato com camadas profundas e sagradas da psique. Atuam não apenas no nivel da mente consciente ou incosciente pessoal, mas no acesso ao que Carl Jung chamou de inconsciente coletivo e ao que a psicologia transpessoal reconhecem como consciencia transpessoal ou supraconsciente.
“ A dimensão transpessoal da psique inclui experiencias misticas, estados de consciencia não ordinarios e uma conexão direta com o numinoso – o sagrado presente dentro de cada ser” – Stanislaw Grof.
Runas como Ansuz (a respiração divina), Laguz (as aguas profundas do inconciente) ou Dagaz (a iluminação) facilitam esse transito entre os niveis da consciencia, funcionando como chave de acesso a estados de expansão, revelaçao e integração. A vivencia simbolica com as runas pode desencadear
processos de despertar espiritual, cura profunda e senso de unidade com o todo.
“ A verdadeira evolução do ser humano não é apenas psicológica, mas também espiritual, ela exige a integração harmoniosa de todas as partes da personalidade com o Eu Superior” – Roberto Assagioli, criador da Psicossíntese.
Ao utilizar as runas nesse caminho de desenvolvimento integral, o indivíduo não apenas compreende seus desafios e potenciais, mas também se reintegra a totalidade de ser, vivendo de forma consciente, concentrada e plena.
‘ O processo de crescimento humano completo vai do corpo a mente, da mente a alma, da alma ao Espírito. A psicologia integral é a que abarca todas essas dimensões.” –Ken Wilber, autor da Uma Teoria de Tudo.
Essa citação de Ken Wilber define como o eixo vertical da consciência humana – uma escada que vai do ego ao Espirito. Símbolos, rituais e introspecção é perfeitamente compatível com Ken Wilber.